Tempo Aquiles Bernardi – Nanetto Pipetta Continuação)
Frei Arlindo Itacir Battistel *
conta como nasceu o personagem : “Frei Aquiles Bernardi era um homem sereno,
alegre, vivaz e poderíamos dizer que era um frade feliz. Talvez fosse por isso
que ele cultivava tão bem o humorismo. Bernardi não concebeu Nanetto como
personagem de livro mas criou-o para um seriado do jornal Stafetta
Riograndense. Ele, como sacerdote capuchinho, visitava as capelas dos
imigrantes italianos que haviam se estabelecido na inóspida selva rio-grandense
sofrendo por causa de uma reviravolta total em suas vidas, a começar pela troca
do Hemisfério Norte pelo Hemisfério sul. Para o agricultor, essa troca radical
dava um transtorno profundo, pois ele perdia a noção da época de plantio e
colheita desde os cereaias até as culturas mais elementares de subsistência.
Quando na Itália é inverno aqui no R Grande do Sul é verão. Por isso, era comum que os imigrantes plantavam
milho, trigo, ou outra cultura fora de época. Não colhiam nada. Isto chegava a
ser ridículo. Eles desconheciam a forma de lidar corretamente com o corte das
árvores e o manejo dos diversos tipo de madeira, além desconheceram
completamente o comportamento dos animais selvagens. O desconhecimento do clima
e do novo ambiente geral criava para eles situações embaraçosas, crônicas e até
trágicas. A primeira coisa que o Frei fazia, ao chegar às capelas, era celebrar
as cerimônias religiosas. Depois dedicava um tempo para convivência com os
imigrantes, ou colonos como costumava chama-los. Na ocasião eles aproveitavam
para contar ao Frei as aventuras e desventuras que lhes aconteciam. Frei
Aquiles, visitava outras capelas, contava aos imigrantes o que tinha ouvido
contar na capela anterior. Os ouvintes gostavam e aproveitavam para também para
contar também as suas peripécias. Dai que frei Aquiles teve a licar brilhante
ideia de publicar essas histórias no jornal Staffetta Riograndense. Mas havia
um problema: se o Frei publicasse as histórias com nome das pessoas envolvidas,
poderia ofendê-las, melindrar seus familiares ou desagradar os parentes. Foi
então que o Frei concebeu o personagem Nanetto Pipetta, que representava os
personagens reais. Tomava-lhes as histórias, mas deixava-os no anonimato. Ouvia as histórias e as
escrevia. Depois voltava para a capela e lia o escrito para os colonos que
faziam observações e emendas. Somente depois disto é que as mandava para a
redação. Quando Frei Aquiles publicou as primeiras histórias no jornal, logo
foram lidas avidamente pelos imigrantes. Os pais, assinantes do jornal, após o
jantar e a reza do terço, passaram a reunir a família ao redor da lareira e ler
as aventuras de Nanetto Pipetta em voz alta. A alegria tomava conta dos
ouvintes. Gostosas gargalhadas eclodiam noite a dentro. Em seguida os que
recebiam o jornal convidavam os vizinhos
– que não eram assinantes – para visita-los à noite, em filó, para ouvirem a leitura das histórias. Diante delas, tão engraçadas,
muitos começaram a assinar o jornal para lê-las em primeira mão. Houve então
uma explosão de assinantes fazendo o jornal circular a mil. Por algum tempo Nanetto foi o motivo pelo qual muitos
colonos passaram a assinar o jornal. O sucesso de Nanetto foi total porque: 1º
- Eram histórias reais encarnadas em Nanetto Pipetta. 2º - As ciam peripécias
não aconteciam só para aqueles que contava as história ao Frei, mas aconteciam
situações parecidas para vários outros imigrantes. Estes se sentiam encarnados
na história, participantes. 3º - Era um aprendizado. Alertava os leitores para
que não caíssem nas mesmas armadilhas em que Nanetto caía. Pipetta fez enorme
sucesso porque o personagem estava profundamente enraizado na história do povo.
O leitor sentia-se participante e cumplice. Tudo ia bem quando surgiu um
problema que se “Invidia Clericorum”, isto é: Inveja Clerical. Seus superiores
e o diretor do Staffetta se preocuparam com o sucesso do Frei, na verdade não
procuravam isso, pois ele simplesmente queria divertir os imigrantes. Em nome
de uma pseudo-intelectualidade do diretor e de um falso conceito de moralidade,
entendeu que os artigos de Aquiles eram pobres, levianos, baixos e com certos
termos vulgares e, portanto, imorais. Na verdade não havia nada disso. O certo
é que o Frei Aquiles com seu Nanetto Pipetta incomodava o diretor do jornal que
percorreu o caminho contrário de Frei Aquiles. Este escreveu o seriado do
jornal, que depois se transformou em livro. O diretor, de um momento para
outro, baixou orem para que Aquiles terminasse o seriado de Nanetto, já que ele
publicaria um romance italiano no seu lugar. Aquiles ficou desapontado e muito
triste, mas como bom capuchino obedeceu. Para expressar seu protesto, no último
artigo do seriado, Aquiles fez Nanetto se afogar no Rio das Antas, sem receber
a Unção do Enfermos, que para a época, era uma desgraça, pois representava a
possibilidade de condenação eterna. O Staffetta Riograndense passou a publicar
o seriado do dito romance em italiano gramatical, língua que entre os imigrantes, não entendia. Consequência: as assinaturas do jornal
despencaram e houve uma enxurrada de
reclamações e protestos. Em vista disto, após algum tempo, os responsáveis pelo
jornal retiram o dito romance italiano e pediram a Frei Aquiles voltar a
escrever, mas desta vez, se comicidade, mais sensato, mais educativo. No
entanto Aquiles havia pedido a empolgação, pois mataram seu maior tesouro: o
senso de humor. Obedeceu e passou a escrever artigos sobre costumes, o
progresso e a vida simples dos agricultores. Esses artigos depois foram coletados num livro que se chama “Nino
Fratello de Nanetto”. É um livro bom para entender a vida e os costumes dos
imigrantes da época, mas não fez sucesso. O que ficou e continua mesmo é
Nanetto Pipetta. Bem mais tarde, Frei Rovílio desafogou Nanetto Pipetta
tirando-o do Rio das Antas e fazendo-o ressuscitar com o mesmo nome, o mesmo
estilo, mas num ambiente moderno. Vários autores como: Grigolo, Grando,
Gardelin e outro passaram a escrever novos seriados de Nanetto Pipetta que
foram e estão sendo publicados no Correio Riograndense. Estas estórias estão
sendo bem aceitas pelos assinantes na medida que os autores aproximam na medida
que os autores aproximam seu personagem fictício aos personagens da vida real.
Atualmnte há muitos leitores do Correio Riograndense que apreciam realmente o
novo seriado de Nanetto Pipetta que continua bem vivo e sempre renovado.
Bibliografia:Revista INSIEME. A
Revista Italianda Daqui. Nº 159 – Março – Marzo 2012.
www.insieme.com.br ou
insieme@insieme.com.br
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