Cristãos Novos
Nos
tempos de aluno ginasiano, por ocasião das aulas de História, nos primeiros
dias de aula, enquanto procedia à chamada, o professor dava a origem dos nomes
da família dos componentes da turma.
Os nomes de árvores e de frutas – dizia
ele – por de mais difundidos entre os
lusitanos, têm origem judaica.
Os Judeus, tendo extrema necessidade de
se deslocarem e ante a aproximação da Península Ibérica, não vacilavam em se
dirigir para a Espanha e Portugal. Davam, entretanto, preferência à parte
Ocidental da península, onde encontra Portugal.
Como medida de proteção, temendo
perseguição, porquanto na Europa, no início da Idade Média, predominava aquele
sentimento anti-semita entre a grande maioria da população.
O Velho Mundo, composto por uma quase
totalidade de cristãos, com certeza não recepcionaria, de bom grado, aqueles
aos quais atribuía à morte do Salvador.
Os israelitas, já em território
português, providenciavam a troca de nomes. Os nomes de árvores e de frutas
eram adotados pelas famílias. Assim: Pereira, Amora, Laranjeira, Pera etc.
Ao transcorrer do tempo, o afastamento
da terra de origem e a necessidade de criar os meios de subsistência, a
necessidade de se afastarem entre si, os colocaram à mercê da forte influência
da nova civilização. Assim, absorveram a nova cultura, inclusive abraçando o
Cristianismo. Convictos de sua segurança naquele país e com filhos naturais
daquela terra, passavam a externar seu sentimento, visto que já estavam
identificados com os demais habitantes.
Autodenominavam-se, por isso, cristãos
novos ou se lhes era atribuída essa qualificação.
Acontecimento análogo às invasões
napoleônicas podemos, também, aqui consignar. Nos primórdios do século XIX,
alguns italianos ocuparam o Norte da Itália para ficar próximo à fronteira da
França. Facilmente poderiam entrar em território francês e esse intuito
proporcionava bastante segurança, porque afrancesavam seus nomes, alterando a
sílaba final do vocábulo italiano.
Prof. Otto Carvalho Filho
...Compreende-se que os cristãos-novos, vindos da
usura, do comércio de escravos e da agiotagem, encontrassem nos títulos
universitários de bacharel, de mestre e de doutor a nota de prestígio social
que corresponde às suas tendências e ideais sefardínicos. Que encontrassem na advocacia, na medicina e no
ensino superior a maneira ideal de se aristocratizarem. Seus apelidos é interessantes
observar que dissolveram nos germânicos e latinos dos cristãos-velhos. Facilitou aliás Dom Manuel I aos
cristãos-novos a naturalização, e, ao mesmo tempo, a aristocratização de seus
nomes de família, permitindo-lhes usar os mais nobres apelidos de Portugal. O
que se proibia aos outros—tomar “apelidos de fidalgos de solar conhecido, que
tenham terras com jurisdição em nosso reino” --- concedeu-se amplamente aos
cristãos-novos: “ porém aos que novamente se tornarem à nossa santa fé poderão
tomar, e ter em suas vidas, e trespassar a seus filhos somente, os apelidos de
quaisquer linhagens que quiserem, sem pena alguma”. Tudo isto mostra como,
mesmo no caso de judeu, foi intensa a mobilidade e livre a circulação por assim
dizer de uma raça a outra; e, literalmente, de uma classe a outra. De uma a
outra esfera social. pag 292 e 293 Casa
Grande & Senzala 46º
FREIRE, Gilberto. Casa
Grande &. Senzala Edição Record; Rio de Janeiro e São Paulo. 2002
Ganivet andou próximo dessa interpretação, extravagante só
na aparência, ao referir-se no seu Idearium Español a “la antipatia histórica
entre Castilla e Portugal, nacida acaso de la semejanza , del estrecho parecido de sus caracteres”. O
ódio ao espanhol, já assinalamos como fator psicológico de diferenciação
política de Portugal. Mas nem esse ódio nem fundamental, ao mouro, separaram o
português das duas grandes culturas, uma materna, outra, por assim dizer,
paterna, da sua. A hispânica e a berbere.
Contra elas formou-se politicamente Portugal, mas dentro da influência e
que se formou o caráter português. Neste a romantização intensa não apagou os
traços essenciais hispânicos nem a reconquista cristã os profundos traços
berberes e mouros. È ponto que nos sentimos na necessidade de salientar porque
explica nossa insistência em considerar hispânica a formação social e cultural
da América colonizada por espanhóis e portugueses. Hispânica e não latina.
Católica, tingida de misticismo e de cultura maometana, e não resultado da
Revolução Francesa ou da renascença Italiana... Casa grande & senzala . pág.
303 e 304
... Os míticos da superioridade de raça talvez enxergam no
fato de explicação das famílias mestiças do Norte e de certas regiões de Minas
e São Paulo virem contribuir para o progresso brasileiro com maior número de
homens de talento – estadistas do império, escritores, bispos, artistas,
presidentes e vice-presidentes da República – do que as do Sul – Rio de
Janeiro, parte de Minas e São Paulo, o Rio Grande do sul. Poderão alegar
tratar-se de um elemento com larga dose de sangue berbere, e talvez até de
origem berbere. Predominantemente não-negróide, considera Haddon a esse povo
africano de que dá como verdadeiro nome,
Pulbe. O mais (Fula, Fulani, Felava, Filani, Fube) seriam corruptelas.
Descreve-os Haddon como gente alta, a pela amarela ou avermelhada, o cabelo
ondeado, o rosto oval, o nariz proeminente... pág 361
Casa grande & e senzala
... Este, como se sabe, mostra-se encarapinhadíssimo nos
ulotrichi africani. Esse característico não se encontra tão carregado nos
indivíduos dos vários estoques de hamitas e até berberes de que nos vieram numerosas escravos: enquanto os fulos e
outros povos da áfrica oriental que contribuíram também para a formação brasíleira
se filiam pelo cabelo aos cynotrichi. Cabelo mais suave. Nariz mais afilado.
Traços mais próximos dos europeus. Mais doces ou “domesticados”, como se diria
em linguagem antropológica. Pág 361 Casa grande & senzala
Sudão Oriental – área ainda mais influenciada que a anterior
pela religião maometana; língua árabe; abundância de animais a serviço do
homem; atividades pastoril; grande uso do leite de camela; nomadismo; tendas;
vestuários de pano semelhantes aos dos berberes. (g) Sudão Ocidental – outra
área de interpenetração de culturas, a negra propriamente dita e a maometana;
região de grandes monarquias ou reinos – Danmei, Benim, Axanti, Haúça, Bornu,
Ioruba,; sociedades secretas de largo e eficiente domínio sobre a vida
política; agricultura, criação de gado e comércio; notáveis trabalhos artísticos de pedra, ferro, terracota e tecelagem, feiticismo
e maometismo; (h) área do deserto (berbere)
Notaremos apenas o fato de terem umas e outras projetada larga influência sobre
o continente africano... Pág. 366 Casa
Grande & Senzala
SILVIO
ROMERO e JOÃO RIBEIRO ( Compêndio de História da Literatura Brasileira, cit.)
não deixaram de sugerir o estudo de cultura das principais tribos ou “nações”
africanas que concorreram para a nossa
civilização. “Não estavam todas, é certo, no mesmo grau de cultura; mas do seu
contato com os Árabes desde o VII século, com os Egípcios e os Berberes, desde épocas imemoriais
tinham na mor parte de suas tribos chegado já a notável grau de adiantamento.”
E mencionam: Jolofos, “aptos à vida do mar” Mandingas, “ convertidos em geral
ao maometismo, inteligentes e empreendedores”, Jorubas ou Minas, “quase
todos maometanos e tão hábeis quanto os
Mandingas”: DIOGO DE VASCONCELOS destaca
na excelente História Média de Minas Gerais (Belo Horizonte, 1918) e também na
antiga, a presença , entre os colonos africanos do Brasil, de negros vindos de
áreas cultural adiantada: “Limítrofes com países maometanos” Pág. 445 Casa Grande & Senzala. Notas ao
Capítulo IV.
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