sexta-feira, 22 de maio de 2015

Cristãos Novos


Cristãos  Novos

            Nos tempos de aluno ginasiano, por ocasião das aulas de História, nos primeiros dias de aula, enquanto procedia à chamada, o professor dava a origem dos nomes da família dos componentes da turma.

Os nomes de árvores e de frutas – dizia ele – por de  mais difundidos entre os lusitanos, têm origem judaica.

Os Judeus, tendo extrema necessidade de se deslocarem e ante a aproximação da Península Ibérica, não vacilavam em se dirigir para a Espanha e Portugal. Davam, entretanto, preferência à parte Ocidental da península, onde encontra Portugal.

Como medida de proteção, temendo perseguição, porquanto na Europa, no início da Idade Média, predominava aquele sentimento anti-semita entre a grande maioria da população.

O Velho Mundo, composto por uma quase totalidade de cristãos, com certeza não recepcionaria, de bom grado, aqueles aos quais atribuía à morte do Salvador.

Os israelitas, já em território português, providenciavam a troca de nomes. Os nomes de árvores e de frutas eram adotados pelas famílias. Assim: Pereira, Amora, Laranjeira, Pera etc.

Ao transcorrer do tempo, o afastamento da terra de origem e a necessidade de criar os meios de subsistência, a necessidade de se afastarem entre si, os colocaram à mercê da forte influência da nova civilização. Assim, absorveram a nova cultura, inclusive abraçando o Cristianismo. Convictos de sua segurança naquele país e com filhos naturais daquela terra, passavam a externar seu sentimento, visto que já estavam identificados com os demais habitantes.

Autodenominavam-se, por isso, cristãos novos ou se lhes era atribuída essa qualificação.

            Acontecimento análogo às invasões napoleônicas podemos, também, aqui consignar. Nos primórdios do século XIX, alguns italianos ocuparam o Norte da Itália para ficar próximo à fronteira da França. Facilmente poderiam entrar em território francês e esse intuito proporcionava bastante segurança, porque afrancesavam seus nomes, alterando a sílaba final do vocábulo italiano.

Prof. Otto Carvalho Filho



 

...Compreende-se que os cristãos-novos, vindos da usura, do comércio de escravos e da agiotagem, encontrassem nos títulos universitários de bacharel, de mestre e de doutor a nota de prestígio social que corresponde às suas tendências e ideais sefardínicos. Que encontrassem na advocacia, na medicina e no ensino superior a maneira ideal de se aristocratizarem. Seus apelidos é interessantes observar que dissolveram nos germânicos e latinos dos cristãos-velhos.  Facilitou aliás Dom Manuel I aos cristãos-novos a naturalização, e, ao mesmo tempo, a aristocratização de seus nomes de família, permitindo-lhes usar os mais nobres apelidos de Portugal. O que se proibia aos outros—tomar “apelidos de fidalgos de solar conhecido, que tenham terras com jurisdição em nosso reino” --- concedeu-se amplamente aos cristãos-novos: “ porém aos que novamente se tornarem à nossa santa fé poderão tomar, e ter em suas vidas, e trespassar a seus filhos somente, os apelidos de quaisquer linhagens que quiserem, sem pena alguma”. Tudo isto mostra como, mesmo no caso de judeu, foi intensa a mobilidade e livre a circulação por assim dizer de uma raça a outra; e, literalmente, de uma classe a outra. De uma a outra esfera social.  pag 292 e 293 Casa Grande & Senzala 46º

 

FREIRE, Gilberto. Casa Grande &. Senzala Edição Record; Rio de Janeiro e São Paulo. 2002

Ganivet andou próximo dessa interpretação, extravagante só na aparência, ao referir-se no seu Idearium Español a “la antipatia histórica entre Castilla e Portugal, nacida acaso de la semejanza  , del estrecho parecido de sus caracteres”. O ódio ao espanhol, já assinalamos como fator psicológico de diferenciação política de Portugal. Mas nem esse ódio nem fundamental, ao mouro, separaram o português das duas grandes culturas, uma materna, outra, por assim dizer, paterna, da sua. A hispânica e a berbere. Contra elas formou-se politicamente Portugal, mas dentro da influência e que se formou o caráter português. Neste a romantização intensa não apagou os traços essenciais hispânicos nem a reconquista cristã os profundos traços berberes e mouros. È ponto que nos sentimos na necessidade de salientar porque explica nossa insistência em considerar hispânica a formação social e cultural da América colonizada por espanhóis e portugueses. Hispânica e não latina. Católica, tingida de misticismo e de cultura maometana, e não resultado da Revolução Francesa ou da renascença Italiana... Casa grande & senzala . pág. 303 e 304

 

... Os míticos da superioridade de raça talvez enxergam no fato de explicação das famílias mestiças do Norte e de certas regiões de Minas e São Paulo virem contribuir para o progresso brasileiro com maior número de homens de talento – estadistas do império, escritores, bispos, artistas, presidentes e vice-presidentes da República – do que as do Sul – Rio de Janeiro, parte de Minas e São Paulo, o Rio Grande do sul. Poderão alegar tratar-se de um elemento com larga dose de sangue berbere, e talvez até de origem berbere. Predominantemente  não-negróide, considera Haddon a esse povo africano  de que dá como verdadeiro nome, Pulbe. O mais (Fula, Fulani, Felava, Filani, Fube) seriam corruptelas. Descreve-os Haddon como gente alta, a pela amarela ou avermelhada, o cabelo ondeado, o rosto oval, o nariz proeminente... pág  361  Casa grande & e senzala

 

... Este, como se sabe, mostra-se encarapinhadíssimo nos ulotrichi africani. Esse característico não se encontra tão carregado nos indivíduos dos vários estoques de hamitas e até berberes de que nos vieram numerosas escravos: enquanto os fulos e outros povos da áfrica oriental que contribuíram também para a formação brasíleira se filiam pelo cabelo aos cynotrichi. Cabelo mais suave. Nariz mais afilado. Traços mais próximos dos europeus. Mais doces ou “domesticados”, como se diria em linguagem antropológica. Pág 361 Casa grande & senzala

 

Sudão Oriental – área ainda mais influenciada que a anterior pela religião maometana; língua árabe; abundância de animais a serviço do homem; atividades pastoril; grande uso do leite de camela; nomadismo; tendas; vestuários de pano semelhantes aos dos berberes. (g) Sudão Ocidental – outra área de interpenetração de culturas, a negra propriamente dita e a maometana; região de grandes monarquias ou reinos – Danmei, Benim, Axanti, Haúça, Bornu, Ioruba,; sociedades secretas de largo e eficiente domínio sobre a vida política; agricultura, criação de gado e comércio; notáveis trabalhos artísticos  de pedra, ferro, terracota e tecelagem, feiticismo e maometismo; (h) área do deserto (berbere) Notaremos apenas o fato de terem umas e outras projetada larga influência sobre o continente africano... Pág. 366  Casa Grande & Senzala

 

SILVIO ROMERO e JOÃO RIBEIRO ( Compêndio de História da Literatura Brasileira, cit.) não deixaram de sugerir o estudo de cultura das principais tribos ou “nações” africanas  que concorreram para a nossa civilização. “Não estavam todas, é certo, no mesmo grau de cultura; mas do seu contato com os Árabes desde o VII século, com os Egípcios e os Berberes, desde épocas imemoriais tinham na mor parte de suas tribos chegado já a notável grau de adiantamento.” E mencionam: Jolofos, “aptos à vida do mar” Mandingas, “ convertidos em geral ao maometismo, inteligentes e empreendedores”, Jorubas ou Minas, “quase todos  maometanos e tão hábeis quanto os Mandingas”: DIOGO  DE VASCONCELOS destaca na excelente História Média de Minas Gerais (Belo Horizonte, 1918) e também na antiga, a presença , entre os colonos africanos do Brasil, de negros vindos de áreas cultural adiantada: “Limítrofes com países maometanos”  Pág. 445 Casa Grande & Senzala. Notas ao Capítulo IV.

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