A
VIDA QUE NASCE DA MORTE
Graça a pedir: de
deixar-se possuir e animar pelo espírito do Ressuscitado.
Jesus vive, testemunha e fala
da Sua relação com o Pai. Cumpre até as últimas conseqüências a vontade de Seu
Pai. Contudo, morre condenado. Humanamente falando, tudo terminou, Sua missão
fracassou. E no auge do sofrimento pergunta: “Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonaste?” (Mc 15,34). O Pai realmente tinha abandonado o Filho amado? A
morte foi mais forte do que Sua fé e Seu amor? Seria a morte e não a vida a última
palavra de Deus? Com a ressurreição de Jesus muda a fisionomia do mundo: a
morte deixa de ser o futuro previsível; a vitória da vida se impõe e vence o
poder do mal.
Jesus morre, confiando-se ao
Pai: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc
23,46). Jesus crê na fidelidade amorosa do Pai. O Pai
responde com o SIM definitivo e absoluto à vida, ressuscitando Jesus.
A morte de Jesus interrompe a
comunhão de vida entre os discípulos e o Jesus histórico. Os discípulos
desanimam e abandonam o Mestre. Uns dias depois do encontro com o Ressuscitado,
os discípulos se transformam radicalmente. Muitos dentre eles eram medrosos e covardes. Mas após o
encontro com o Ressuscitado, proclamam Sua
ressurreição e anunciam fervorosamente Seu projeto. Muitos deles dão a vida pela fé e continuam a viver a união com
Jesus Cristo e entre si e iniciam a missão. Os primeiros capítulos dos Atos dos
Apóstolos atestam essa transformação. Os apóstolos são chamados diante do
Sinédrio, em Jerusalém, e “mandaram açoitá-los
com varas e, depois de intimidá-los a não mais pronunciarem o nome de Jesus,
soltaram-nos. Os apóstolos deixaram o Sinédrio, felizes por terem sido
considerados dignos de sofrer ultrajes pelo Nome. Diariamente no Templo como
nas casas, não cessavam de ensinar e anunciar Jesus como Messias” (At
5,40-42). É a partir da ressurreição que Jesus deixa de anunciar para ser
anunciado, tornando-se o centro e o querigma da Igreja primitiva.
A cruz para as autoridades,
ilusoriamente, é a impressão de que o projeto de
Jesus havia fracassado. Na hora da verdade, está sozinho, sofre inclusive a
ausência do Pai. Ao contrário do que se esperava diante da morte de cruz de
Jesus, sua causa não acabou. Parece que alguma coisa acontece que desperta a
esperança, o sepulcro está vazio, um estranho surge e inflama os corações dos
discípulos, anjos lhes dizem que ele ressuscitou e eles estão temerosos, mas
cheios de júbilo. O medo, porém, impede de reconhecer o estranho, o diferente
que está acontecendo. Finalmente, quando reconhecem Jesus, ficam transbordantes de alegria e fé. Na medida em que
acontecia um processo de mudança nos apóstolos e nos discípulos, eles
experimentam uma profunda alegria interior. Revigorados na fé, reconheceram ser
preciso voltar às comunidades e se tornarem mestres no Mestre e proclamarem a
Sua ressurreição.
O dinamismo das comunidades
cristãs e a vivência do Evangelho são a melhor prova que Jesus ressuscitou.
Nada é tão convincente do que o testemunho alegre e corajoso. A mesma mão que
ressuscitou Jesus dos mortos está presente nas narrativas do Evangelho, fortalecendo,
guiando, abençoando, curando.
Nenhum relato evangélico se atém ao que acontece com o
corpo de Jesus, é Ele mesmo podem tocá-Lo, vê-Lo etc.As testemunhas oculares
testemunham terem encontrado o sepulcro vazio: Pedro e o outro discípulo (cf.
Jo 20,6-8), Maria Madalena e outras mulheres (cf. Mc 16,4-6; Lc 24,2-3). Nem
mesmo os inimigos dos cristãos negam esta verdade. Justificam apenas que o corpo
de Jesus foi roubado. As narrativas das aparições falam de Jesus. A
ressurreição não significou mera ressurreição do corpo morto de Jesus.
Por um gesto ou por uma palavra, as testemunhas se
convencem de que Jesus de Nazaré ressuscitou. Maria só reconhece o jardineiro como Jesus, quando Ele a chama pelo nome (Jo 20,11-18). Os discípulos
de Emaús O reconhecem, por fim, na fração
do pão (Lc 24,13-35). Ao ressuscitar, Jesus não vive mais a mesma vida que
vivia entre os seus contemporâneos. Porque ressuscitar não equivale a recobrar
a vida perdida, mas em desfrutar da vida em plenitude, que é animada pela força
de Deus.
Do escândalo da cruz brota a
novidade do impossível. Os olhos dos discípulos se abrem e, então, crêem que
Deus havia ressuscitado Jesus dentre os mortos. Esta novidade faz com que eles
confirmem, na Igreja primitiva, a fé em Deus, a aceitação de Jesus como Filho
de Deus enviado e a esperança no Reino de Deus.
Para o Filho, a ressurreição
testemunha a fidelidade do Pai. O Pai não abandona o Filho, mas O acolhe em
absoluta proximidade. É o triunfo da
justiça de Deus. Ressuscita plenamente aquele que vocês assassinaram (At
2,23).
Deus ressuscita o
crucificado. O ressuscitado é Jesus que pregou a vinda do Reino de Deus aos
pobres, denunciou e desmascarou as falsas divindades, foi perseguido e, em conseqüência,
condenado à morte e executado. Em todas estas situações, manteve Sua radical
fidelidade à vontade do Pai e uma radical confiança no Deus a quem obedecia.
Deus O ressuscitou como resposta à ação criminosa e injusta dos homens.
A cruz é o grande distintivo
do Ressuscitado. A cruz, à luz da ressurreição e, ao mesmo tempo, a ressurreição
à sombra da cruz. Quanto mais a pessoa
aprofunda o significado da cruz em sua vida e história, tanto mais ela se
aprofunda no mistério da ressurreição. Ignorar a cruz é a maneira mais
sorrateira de descristianizar a esperança da ressurreição.
Para anunciar a ressurreição, é
preciso estar, de fato, junto à cruz de Jesus e às inúmeras cruzes atuais. A
ressurreição deve ser anunciada a partir dos crucificados da história, sem ser
conivente com suas cruzes. Quando a Igreja está junto do Crucificado e dos
crucificados, sabe como falar do Ressuscitado,
como suscitar uma esperança e como fazer com que os cristãos vivam,
desde agora, como ressuscitados.
A ressurreição significa o
horizonte novo, com o qual se pode ver, com olhos novos, a
realidade humana do passado, presente e futuro. Na ressurreição, Deus se revela
como fidelidade e amor, de forma definitiva, legitimando o projeto de Jesus.
Para seguir as pegadas do Mestre, a pessoa é
convidada ao despojamento de si mesma, para
poder contemplá-Lo na glória. Pela oração, a
pessoa penetra no coração de Jesus Cristo e participa da vida divina, escondida
no fundo do Seu coração.
Em sua
oração, cada pessoa é convidada a oferecer e entregar
a Jesus Cristo, o sofrimento de tantos homens
e mulheres desprovidos da dignidade humana. Ele acolhe e oferece tudo ao Pai e
celebra a verdadeira Eucaristia.
A pessoa de fé, que vive em
união com o Ressuscitado, deixa-se iluminar e conduzir pelo Espírito que
fecunda sua vida de filho e filha amada de Deus. O ser humano inteiro, corpo, mente, alma e espírito participam da filiação
divina.
À luz da ressurreição, a morte de Jesus muda de significado. Não é fracasso, mas entrada, passagem
para a vida nova e se transforma em libertação.
Assim, a morte deixa de ser escravizadora e inimiga
do homem, para se tornar passagem para a ressurreição.
A fé
na ressurreição influencia profundamente o modo de vida da pessoa. Ela a motiva
a ser fiel ao Mestre, que, agora, é presença interior. A fé na ressurreição
elimina o medo de ser excluído da mesa da esperança, da alegria e da paz do
Ressuscitado. Por isso, quanto mais a pessoa de fé vive a fraternidade e
solidariedade com os mais desprovidos da dignidade humana, tanto maior será o
seu entendimento do mistério da Paixão-morte e ressurreição de Jesus.
A
pessoa que encarna a dinâmica do Ressuscitado é capaz de ler os problemas do momento
presente, como possibilidades de redenção. É por isso que o cristão olha o
mundo com desejo de libertação e de transformação
(cf. Rm 8,22-23).
Por Jesus, com Jesus e em
Jesus, todas as pessoas participam da vida em plenitude. É a certeza de que
Jesus ressuscitado vive na pessoa e se torna, nela, fonte de energia, que a potencializa para transformar sua ação,
em ação libertadora e geradora de vida. É Deus agindo na pessoa.
Seguir as pegadas do Mestre,
na liberdade e alegria interiores possibilita à pessoa deixar-se
enviar e ir ao encontro das situações do mundo, marcadas pelas injustiças.
Nestas realidades sofridas, reconhecer as feições do Cristo doloroso e ressuscitado.
O individualismo e a fuga são os piores inimigos da fé. Para seguir as
pegadas do Mestre, faz-se necessário pedir a Ele para que abra todas as portas
que mantêm os Seus seguidores fechados no medo e na insegurança. A pessoa,
tendo-se encontrado com o Ressuscitado e provado a paz, a alegria e o sopro do espírito, com generosidade, vai
testemunhar e anunciar a Alegre Notícia no mundo marcado pelas injustiças e aí
reconhecer as feições de Jesus ressuscitado.
EXERCÍCIOS DE
ORAÇÃO CONTEMPLATIVA
Oração ao
Espírito Santo
Ó Espírito
Santo,
amor do Pai e do Filho,
Inspira-me
sempre o que devo pensar,
o que devo dizer,
como o devo dizer;
O que devo calar,
o que devo escrever,
como devo agir,
o que devo fazer
para obter a vossa glória,
o bem das almas
e minha própria santificação!
Cardeal Verdier
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