sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

A vida que nasce da morte

A VIDA QUE NASCE DA MORTE

Graça a pedir: de deixar-se possuir e animar pelo espírito do Ressuscitado.
        
         Jesus vive, testemunha e fala da Sua relação com o Pai. Cumpre até as últimas conseqüências a vontade de Seu Pai. Contudo, morre condenado. Humanamente falando, tudo terminou, Sua missão fracassou. E no auge do sofrimento pergunta: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15,34). O Pai realmente tinha abandonado o Filho amado? A morte foi mais forte do que Sua fé e Seu amor? Seria a morte e não a vida a última palavra de Deus? Com a ressurreição de Jesus muda a fisionomia do mundo: a morte deixa de ser o futuro previsível; a vitória da vida se impõe e vence o poder do mal.
         Jesus morre, confiando-se ao Pai: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito(Lc 23,46). Jesus crê na fidelidade amorosa do Pai. O Pai responde com o SIM definitivo e absoluto à vida, ressuscitando Jesus.
         A morte de Jesus interrompe a comunhão de vida entre os discípulos e o Jesus histórico. Os discípulos desanimam e abandonam o Mestre. Uns dias depois do encontro com o Ressuscitado, os discípulos se transformam radicalmente. Muitos dentre eles eram medrosos e covardes. Mas após o encontro com o Ressuscitado, proclamam Sua ressurreição e anunciam fervorosamente Seu projeto. Muitos deles dão a vida pela fé e continuam a viver a união com Jesus Cristo e entre si e iniciam a missão. Os primeiros capítulos dos Atos dos Apóstolos atestam essa transformação. Os apóstolos são chamados diante do Sinédrio, em Jerusalém, e “mandaram açoitá-los com varas e, depois de intimidá-los a não mais pronunciarem o nome de Jesus, soltaram-nos. Os apóstolos deixaram o Sinédrio, felizes por terem sido considerados dignos de sofrer ultrajes pelo Nome. Diariamente no Templo como nas casas, não cessavam de ensinar e anunciar Jesus como Messias” (At 5,40-42). É a partir da ressurreição que Jesus deixa de anunciar para ser anunciado, tornando-se o centro e o querigma da Igreja primitiva.
          A cruz para as autoridades, ilusoriamente, é a impressão de que o projeto de Jesus havia fracassado. Na hora da verdade, está sozinho, sofre inclusive a ausência do Pai. Ao contrário do que se esperava diante da morte de cruz de Jesus, sua causa não acabou. Parece que alguma coisa acontece que desperta a esperança, o sepulcro está vazio, um estranho surge e inflama os corações dos discípulos, anjos lhes dizem que ele ressuscitou e eles estão temerosos, mas cheios de júbilo. O medo, porém, impede de reconhecer o estranho, o diferente que está acontecendo. Finalmente, quando reconhecem Jesus, ficam transbordantes de alegria e fé. Na medida em que acontecia um processo de mudança nos apóstolos e nos discípulos, eles experimentam uma profunda alegria interior. Revigorados na fé, reconheceram ser preciso voltar às comunidades e se tornarem mestres no Mestre e proclamarem a Sua ressurreição.
         O dinamismo das comunidades cristãs e a vivência do Evangelho são a melhor prova que Jesus ressuscitou. Nada é tão convincente do que o testemunho alegre e corajoso. A mesma mão que ressuscitou Jesus dos mortos está presente nas narrativas do Evangelho, fortalecendo, guiando, abençoando, curando.
Nenhum relato evangélico se atém ao que acontece com o corpo de Jesus, é Ele mesmo podem tocá-Lo, vê-Lo etc.As testemunhas oculares testemunham terem encontrado o sepulcro vazio: Pedro e o outro discípulo (cf. Jo 20,6-8), Maria Madalena e outras mulheres (cf. Mc 16,4-6; Lc 24,2-3). Nem mesmo os inimigos dos cristãos negam esta verdade. Justificam apenas que o corpo de Jesus foi roubado. As narrativas das aparições falam de Jesus. A ressurreição não significou mera ressurreição do corpo morto de Jesus. Por um gesto ou por uma palavra, as testemunhas se convencem de que Jesus de Nazaré ressuscitou. Maria só reconhece o jardineiro como Jesus, quando Ele a chama pelo nome (Jo 20,11-18). Os discípulos de Emaús O reconhecem, por fim, na fração do pão (Lc 24,13-35). Ao ressuscitar, Jesus não vive mais a mesma vida que vivia entre os seus contemporâneos. Porque ressuscitar não equivale a recobrar a vida perdida, mas em desfrutar da vida em plenitude, que é animada pela força de Deus.
         Do escândalo da cruz brota a novidade do impossível. Os olhos dos discípulos se abrem e, então, crêem que Deus havia ressuscitado Jesus dentre os mortos. Esta novidade faz com que eles confirmem, na Igreja primitiva, a fé em Deus, a aceitação de Jesus como Filho de Deus enviado e a esperança no Reino de Deus.
         Para o Filho, a ressurreição testemunha a fidelidade do Pai. O Pai não abandona o Filho, mas O acolhe em absoluta proximidade.  É o triunfo da justiça de Deus. Ressuscita plenamente aquele que vocês assassinaram (At 2,23).
         Deus ressuscita o crucificado. O ressuscitado é Jesus que pregou a vinda do Reino de Deus aos pobres, denunciou e desmascarou as falsas divindades, foi perseguido e, em conseqüência, condenado à morte e executado. Em todas estas situações, manteve Sua radical fidelidade à vontade do Pai e uma radical confiança no Deus a quem obedecia. Deus O ressuscitou como resposta à ação criminosa e injusta dos homens.
         A cruz é o grande distintivo do Ressuscitado. A cruz, à luz da ressurreição e, ao mesmo tempo, a ressurreição à sombra da cruz. Quanto mais a pessoa aprofunda o significado da cruz em sua vida e história, tanto mais ela se aprofunda no mistério da ressurreição. Ignorar a cruz é a maneira mais sorrateira de descristianizar a esperança da ressurreição.
         Para anunciar a ressurreição, é preciso estar, de fato, junto à cruz de Jesus e às inúmeras cruzes atuais. A ressurreição deve ser anunciada a partir dos crucificados da história, sem ser conivente com suas cruzes. Quando a Igreja está junto do Crucificado e dos crucificados, sabe como falar do Ressuscitado, como suscitar uma esperança e como fazer com que os cristãos vivam, desde agora, como ressuscitados.
         A ressurreição significa o horizonte novo, com o qual se pode ver, com olhos novos, a realidade humana do passado, presente e futuro. Na ressurreição, Deus se revela como fidelidade e amor, de forma definitiva, legitimando o projeto de Jesus. Para seguir as pegadas do Mestre, a pessoa é convidada ao despojamento de si mesma, para poder contemplá-Lo na glória. Pela oração, a pessoa penetra no coração de Jesus Cristo e participa da vida divina, escondida no fundo do Seu coração.
         Em sua oração, cada pessoa é convidada a oferecer e entregar a Jesus Cristo, o sofrimento de tantos homens e mulheres desprovidos da dignidade humana. Ele acolhe e oferece tudo ao Pai e celebra a verdadeira Eucaristia.
         A pessoa de fé, que vive em união com o Ressuscitado, deixa-se iluminar e conduzir pelo Espírito que fecunda sua vida de filho e filha amada de Deus. O ser humano inteiro, corpo, mente, alma e espírito participam da filiação divina.  
         À luz da ressurreição, a morte de Jesus muda de significado. Não é fracasso, mas entrada, passagem para a vida nova e se transforma em libertação. Assim, a morte deixa de ser escravizadora e inimiga do homem, para se tornar passagem para a ressurreição.

         A fé na ressurreição influencia profundamente o modo de vida da pessoa. Ela a motiva a ser fiel ao Mestre, que, agora, é presença interior. A fé na ressurreição elimina o medo de ser excluído da mesa da esperança, da alegria e da paz do Ressuscitado. Por isso, quanto mais a pessoa de fé vive a fraternidade e solidariedade com os mais desprovidos da dignidade humana, tanto maior será o seu entendimento do mistério da Paixão-morte e ressurreição de Jesus.
         A pessoa que encarna a dinâmica do Ressuscitado é capaz de ler os problemas do momento presente, como possibilidades de redenção. É por isso que o cristão olha o mundo com desejo de libertação e de transformação (cf. Rm 8,22-23).
         Por Jesus, com Jesus e em Jesus, todas as pessoas participam da vida em plenitude. É a certeza de que Jesus ressuscitado vive na pessoa e se torna, nela, fonte de energia, que a potencializa para transformar sua ação, em ação libertadora e geradora de vida. É Deus agindo na pessoa.
         Seguir as pegadas do Mestre, na liberdade e alegria interiores possibilita à pessoa deixar-se enviar e ir ao encontro das situações do mundo, marcadas pelas injustiças. Nestas realidades sofridas, reconhecer as feições do Cristo doloroso e ressuscitado.
O individualismo e a fuga são os piores inimigos da fé. Para seguir as pegadas do Mestre, faz-se necessário pedir a Ele para que abra todas as portas que mantêm os Seus seguidores fechados no medo e na insegurança. A pessoa, tendo-se encontrado com o Ressuscitado e provado a paz, a alegria e o sopro do espírito, com generosidade, vai testemunhar e anunciar a Alegre Notícia no mundo marcado pelas injustiças e aí reconhecer as feições de Jesus ressuscitado.

EXERCÍCIOS DE ORAÇÃO CONTEMPLATIVA

Oração ao Espírito Santo

Ó Espírito Santo,
 amor do Pai e do Filho,
Inspira-me sempre o que devo pensar,
 o que devo dizer,
 como o devo dizer;
O que devo calar,
 o que devo escrever,
 como devo agir,
o que devo fazer para obter a vossa glória,
o bem das almas e minha própria santificação!
Cardeal Verdier


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