Por Bruno
Zanini Kairalla
Fotos-reportagem: Deyver
Dias
Apenas na primeira fase foram mais de
cinco mil projetos inscritos, provenientes de diversas instituições
universitárias do País. Além disso, a quantidade dos concorrentes também
deixaria espaço para uma involuntária tensão: mais de 500 universidades. Mesmo
assim, a resposta do Prêmio Santander Universidades 2010, em São
Paulo (SP), mostraria o peso e a qualidade dos profissionais que dispõe a Universidade
Federal do Rio Grande (Furg).
Entre as oito instituições vencedoras, anunciadas na cerimônia realizada na capital paulistana na noite do dia 24 de novembro, lá estava a Furg – a única instituição do Estado a concorrer na categoria universidade solidária, representada pela professora Claudete Miranda Abreu, 41 anos.
Entre as oito instituições vencedoras, anunciadas na cerimônia realizada na capital paulistana na noite do dia 24 de novembro, lá estava a Furg – a única instituição do Estado a concorrer na categoria universidade solidária, representada pela professora Claudete Miranda Abreu, 41 anos.
Bióloga,
próxima de completar os 15 anos de sua graduação na Furg, a professora que
integra o Instituto de Ciências Biológicas(ICB), conquistou o Prêmio Universidade Solidária, após iniciar em maio deste ano a coordenação do
projeto de extensão, “O Cultivo de Pimenta Rosa – Uma planta nativa, como
alternativa sustentável para pequenos produtores do Município de Rio Grande-RS”.
O prêmio que posteriormente será repassado a cada
um dos oito projetos vencedores é de R$ 50 mil, totalizando um montante de R$
400 mil. A premiação é destinada a implementação dos melhores projetos de ação
comunitária focados em desenvolvimento sustentável, com ênfase em geração de
renda.
Além do
apoio financeiro, cada projeto contará com a consultoria especializada da Universidade Solidária (Unisol) e da equipe técnica do Banco
Santander, a fim de maximizar os resultados e promover um diálogo na busca de
melhores soluções. Assim, o objetivo é estimular a extensão
universitária e a formação cidadã do futuro profissional, além de disseminar o
conhecimento das universidades a favor de comunidades em condições
socioeconômicas desfavoráveis.
Nova fase
Com o
reconhecimento, o projeto entra em uma nova fase, a de aplicação prática da
iniciativa. “A ideia agora é fazer com que o projeto atenda ao seu publico
alvo, gerando pesquisas sobre a planta e ampliando assim
os conhecimentos sobre a mesma”, salienta Claudete.
Segundo
a professora, o projeto possui potencial para ser aplicado em diferentes áreas
do conhecimento e, por esta razão, espera contar com o interesse dos acadêmicos
ligados as áreas de Ciências Biológicas, Direito, Pedagogia, Engenharia de
Alimentos, Administração, entre outros.
As
inscrições para os interessados estão abertas até a próxima terça-feira, 07, na
área botânica presente no pavilhão 6 do Campus Carreiros. Segundo a bióloga, a
seleção destes alunos será feita conforme o perfil e a área de atuação
deles.
Feitas
as inscrições, a professora já avalia os próximos passos da iniciativa: -
Formaremos um grupo de ação, ampliando a divulgação do projeto junto à
comunidade de produtores rurais do Município para posteriormente efetivar o
cadastro das famílias conforme os critérios determinados pela equipe e também
de acordo com enquadramento do projeto no edital, visando à capacitação dos
produtores através de cursos sobre conhecimento e manejo da planta, curso de
autogestão e mercado - pontua a professora.
Para viabilizar
as atividades, o projeto conta com a força de seus parceiros de atuação, entre
eles, a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura-Nudese, Prefeitura do Rio Grande,
através da Secretaria Municipal de Agricultura (SMA), Associação Riograndense
de Empreendimentos de Assistência Técnica de Extensão Rural (Emater/RS),
Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro-Sul) e também o Sindicado
dos Trabalhadores Rurais.
Do fruto rosa
Não dá
para dizer que foi “por acaso”, porém, o pontapé inicial do projeto se deu a
partir das observações e estudos de Claudete sobre uma planta invasora,
conhecida como capim-annoni (eragrostis plana).
- Mapeamos
as áreas com intensa infestação desta planta no Município. No trabalho de
campo, observamos a existência de árvores de aroeira mansa nas
propriedades. Em seguida, já com o conhecimento adquirido, constatou-se que a
produção das aroeiras é considerada satisfatória na geração de um produto que
sustenta uma renda alternativa para pequenos produtores rurais - discorre a
professora, que com a evolução das pesquisas buscou a parceria de profissionais
da área. "Foram realizadas reuniões para viabilizar a elaboração do
projeto. Os alunos passaram a ter interesse em participar e a equipe foi sendo
organizada”, conta Claudete.
A
professora recorda que foi enquanto ouvia os produtores de cebola, por exemplo,
perderem grande quantidade de suas mercadorias, queixando-se por conta do
clima, que, aos poucos, foi surgindo as ideias.
Conforme Claudete, a pimenta rosa (schinus
terebinthifolius raddi), fruto da aroeira, é “uma espécie vegetal nativa da
América do Sul e abundante no extremo sul do Rio Grande do Sul, principalmente
na zona de restinga em Rio Grande”. Em contramão a outras plantações, é durante
o inverno que a aroeira fornece seus melhores frutos.
Além de
ser utilizada como tempero culinário, principalmente na culinária européia,
pelo sabor suave, adocicado e levemente apimentado que carrega, do fruto também
é possível se extrair o óleo. E paga-se um valor alto por ele. De
acordo com a professora, um litro pode custar no exterior até 800
dólares.
Barato também não saí um frasco com a fruta pura.
Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como
uma planta medicinal, a pimenta rosa é uma forte aliada para combater processos
infecciosos em geral. Mas, quanto a isto, a professora prefere cautela.
“Desenvolveremos estudos para verificar as suas reais potencialidades”,
assegura.
Atenção
também é necessária para não confundir as espécies. Conforme a bióloga, existe
uma aroeira muito similar, entretanto, seus frutos não são aconselháveis para o
consumo, podendo causar disfunções alérgicas. “As folhas da pimenta rosa são
lisas, enquanto as similares são largas e mais serrilhadas”, compara a
professora.
“Sempre podemos aprender”
Mestre
em fisiologia vegetal e doutora em produção vegetal, ambos pela Federal de
Pelotas, a bióloga define em uma frase sua atual perspectiva de vida: “Sempre podemos aprender”. Além de participar de outros
projetos na área de pesquisa e ensino, no Instituto da Furg, Claudete leciona
as disciplinas nos cursos de Ciências Biológicas, Oceanografia, e também no
curso de Especialização em Diversidade Vegetal.
-
Acredito que os três pilares, ensino, pesquisa e extensão, não podem se
separar, mas penso que coordenar projetos que venham a contribuir com a
formação dos acadêmicos e que tenham uma aplicação prática é sempre
interessante - declara a educadora.
Foi em
sua sala no Instituto, que ela recebeu a nossa equipe de reportagem. No
encontro, a professora relatou sobre os momentos que antecederam o anúncio de
seu nome para receber o prêmio. Acompanhada pela a Pró-Reitora de Extensão e
Cultura, Darlene Torrada Pereira, a bióloga revela que ficou sem
reação na hora.
- Não
acreditava; fiquei sem saber o que fazer; só depois que a ficha caiu, com o
prêmio em mãos, é que comecei a rir sem parar -, menciona ela, que além de uma
sensibilidade aflorada, também possui no tom de voz uma clareza suave.
Rio-grandina
saudosa da localidade do Povo Novo, Claudete ressalta no decorrer da entrevista
que sempre sonhou em um dia poder retribuir ao seu povo tudo o que colheu
enquanto guria. “Agora, encontrei uma maneira de oferecer um retorno”, aponta
ela, que quando questionada sobre o que hoje mais lhe deixa completa, responde:
“Poder ter a chance de promover ações que possam contribuir com o
conhecimento e o desenvolvimento dos produtores rurais”.
Alunos
“É
gratificante quando vejo um aluno interessado em participar do projeto, pois
são eles que estarão no mercado de trabalho, levando um pouco daquilo que
repassei”.
Família
Casada
há 17 anos, a mãe de Manoela e Patrícia, comenta também sobre o apoio que
recebeu de sua família. “Meu esposo sempre me apóia nas ações e até mesmo as
minhas filhas, uma de 4 e a outra de 6 anos, que, mesmo pequenas, percebo que
notam o meu trabalho como algo interessante, comentando sobre a pimenta até na
escola”, orgulha-se ela. “Quero agradecer a todos da equipe, da Furg aos
parceiros e apoiadores, que acreditaram na idéia de produzir pimenta rosa como
uma fonte de renda alternativa no Município e também ao grupo Santander e a
Unisol, por oportunizarem este prêmio as universidades”.
Serviço
- O que:
Inscrições abertas para acadêmicos interessados em participar do projeto
-
Cursos: Ciências Biológicas, Direito, Pedagogia, Eng. de Alimentos,
Administração, etc.
- Até
quando: Terça-feira, 07 de dezembro
- Local:
Área da botânica, presente no pavilhão 6 do Campus Carreiros.
-
Informações: (53) 3293-5181 ou 3233-5176.
Saiba tudo
sobre a Pimenta Rosa
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Pimenta-rosa (Schinus terebinthifolius), muitas vezes
confundida com a pimenta-do-reino, não pertence à família das pimentas.
Trata-se da fruta (de tamanho semelhante ao da pimenta-do-reino) da aroeira (Schinus molle) que, apesar do aroma de pimenta, apresenta sabor
levemente adocicado e ardência bem delicada (quase imperceptível).
Há outra variedade de aroeira, conhecida como
aroeira-de-capoeira ou aroeira-vermelha (Schinus
terebinthifollus) que também produz a pimenta-rosa. Deve-se tomar cuidado pois algumas
variedades, como a aroeira-brava, causam alergia e urticária.
A aroeira é nativa da América do Sul e seus frutos
são comuns na cozinha francesa, daí ser conhecida como poivre rose (pimenta-rosa em francês).
Só há pouco tempo passou a fazer parte da culinária
brasileira, que até então exportava a pimenta-rosa para a Europa e depois
importava. Pela baixa ardência não é usada como condimento e sim como elemento
de decoração. Por outro lado, dá um sabor especial na preparação, pois quando
as sementes são mastigadas nota-se a suave ardência.
Como comprar e onde
armazenar:
Quando fresca e bem conservada, a pimenta-rosa
apresenta uma película fina e delicada de cor avermelhada ou rosada, de textura
quebradiça que envolve uma semente escura de sabor levemente adocicado e pouca
ardência. Evite as pimentas em que as películas estejam soltas, com a cor rosa
desbotada e cheiro de mofo. A melhor maneira de armazená-la é em recipientes
herméticos, secos e limpos. Evite deixá-los expostos à luz e em ambientes
úmidos.
Como usar:
A pimenta-rosa combina tanto em preparações
salgadas como doces. É usada, de maneira especial, em molhos para medalhões de
filé mignon grelhado, mas também fica muito bom com filé de frango e de peixe e
no camarão. Sorvetes de frutas, musses, crêpes e saladas (doces e salgadas)
ganham mais cor e sabor com a pimenta-rosa adicionada no momento de servir.
Experimente servir queijo-de-minas fresco ou queijo de cabra fresco temperado
com azeite de oliva, ervas frescas e pimenta-rosa.